Primeiros dias de amamentação

Saiba como promover a amamentação na primeira hora após o parto e conheça estratégias para superar eventuais dificuldades nos primeiros dias.

Os primeiros dias de amamentação são extremamente importantes para o sucesso do aleitamento materno. Segundo Manuela Ferreira, Enfermeira Especialista em Saúde Materna/Obstetrícia, a amamentação deve iniciar-se ainda na sala de partos e, se possível, na primeira hora de vida. O contacto pele com pele entre mãe e bebé é o primeiro passo para que o recém-nascido comece a mamar. «O bebé fica aconchegado, tranquilo e estabiliza do ponto de vista respiratório, sugando a mama com mais facilidade», introduz a especialista.

A amamentação imediata traz vários benefícios à mãe e ao bebé, sendo atualmente uma das estratégias prioritárias para promover a prevalência e duração do aleitamento materno. Segundo Manuela Ferreira, a mãe deve ser encorajada a reconhecer quando o bebé está pronto a mamar, aproveitando os momentos de alerta da criança, na primeira meia-hora após o nascimento, e oferecendo ajuda, se necessário. «A sucção da mama estimula a produção de hormonas com libertação de ocitocina, que aumenta as contrações uterinas da mãe, facilitando a involução uterina e, simultaneamente, a libertação de prolactina que estimula a formação do leite materno», explica a especialista, acrescentando que as endorfinas libertadas quando o bebé é amamentado logo após o parto contribuem também para diminuir as dores sentidas pela mãe.

Benefícios do colostro

Os primeiros dias de amamentação favorecem de forma especial a saúde da mãe e do bebé, para além de fortalecerem o vínculo afetivo entre mãe e filho. «Nos primeiros dias após o parto, a mãe produz colostro (líquido rico em proteínas, segregado pelas glândulas mamárias), muito importante para a imunização do bebé contra vários vírus e bactérias presentes no ambiente. Além disso, no colostro há substâncias que estimulam o funcionamento intestinal, facilitando a eliminação do mecónio (primeiras fezes do bebé). Para a mãe, auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia».

Frequência e duração das mamadas

A frequência das mamadas deve ser estabelecida pelo bebé, que após um mês já deverá ser capaz de fazer o próprio horário, sem rotinas pré-determinadas, isto é, sendo ele a solicitar quando lhe deve ser oferecida a mama e assim a estabelecer os padrões naturais de amamentação. «É natural que o bebé mame com frequência, sem grande regularidade de horário. O aleitamento materno sem restrições diminui a perda de peso inicial, previne o ingurgitamento mamário, promove a secreção de leite maduro mais cedo e ajuda a estabilizar mais rapidamente os níveis de glicose do bebé», explica Manuela Ferreira. De acordo com a especialista, a duração de cada mamada também não deve ser rígida. O tempo de cada mamada varia de bebé para bebé e de mãe para mãe, podendo oscilar entre 10 a 20 minutos. «O ideal é que cada mamada dure até que seja o bebé quem se solta espontaneamente da mama.

Os bebés amamentados regulam-se a si mesmos, mamam o que necessitam em cada refeição», frisa a especialista, relembrando que é importante que o bebé esvazie a mama, pois o leite do final de mamada tem características diferentes do leite inicial.

A enfermeira deixa ainda alguns conselhos para a mãe: «se o bebé ficou saciado de uma só mama, na mamada seguinte deve ser oferecida a outra mama e, no caso de ter mamado as duas mamas, deve iniciar a mamada seguinte pela mama onde terminou».

Como saber se o bebé tem fome?

A insegurança e a preocupação com o bem-estar do bebé leva a que algumas mães tenham receio de que o seu leite não seja suficiente para alimentar o bebé, ou a assumir que o seu leite tem pouca qualidade porque o bebé chora mais do que habitual, quer mamar com mais frequência, ou demora mais tempo a mamar. Contudo, normalmente este receio não se justifica, sendo apenas o resultado da falta de confiança. Manuela Ferreira descreve os principais sinais que indicam que o bebé tem fome: «o bebé faz movimentos com os olhos; abre a boca; faz movimentos com a língua; franze o sobrolho; vira a cabeça à procura da mama da mãe; leva a mão à boca e suga-a». Para confirmar que o bebé está efetivamente a mamar, a mãe deve constatar que a sucção é mais lenta, que o bebé enche as bochechas de leite e pode ouvi-lo a engolir o leite. Também são sinais de que o bebé está bem alimentado o facto de este urinar mais de seis vezes a cada 24 horas, e o aumento saudável de peso.

Até quando a amamentação exclusiva?

De acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o aleitamento materno deve ser exclusivo até aos seis meses de idade do bebé, sendo que até lá não é conveniente oferecer nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno.

Dificuldades e desconfortos comuns

Segundo Manuela Ferreira, as principais dificuldades que podem interferir no sucesso da amamentação prendem-se com a falta de informação, de apoio e de experiência. «Esta realidade sustenta a importância do papel dos profissionais de saúde, nomeadamente dos enfermeiros, no apoio à grávida no período pré-natal, com reforço de informação e conhecimentos da fisiologia e técnicas de amamentação e, essencialmente, no período após o parto, em que o processo de amamentação se irá estabelecer e as dificuldades, dúvidas e inseguranças vão aumentar», sugere.

Além destes fatores, podem também surgir dificuldades decorrentes de sentimentos de insegurança, posições desconfortáveis, e da pega incorreta. Estes desconfortos podem acarretar problemas físicos que, por vezes, motivam o abandono da amamentação. Entre eles, a maceração e fissuras nos mamilos, e a mama ingurgitada (que fica muito cheia, dolorosa, brilhante e quente). Perante estes desconfortos, a mulher não deve interromper a amamentação, mas antes procurar o apoio de um profissional de saúde. No caso de o desconforto vir acompanhado de febre, a mulher deve procurar especificamente o médico, pois a febre pode ser um sintoma da mastite, uma situação que exige cuidados de saúde específicos.

Orientações para o pai

Como sublinha Manuela Ferreira, a participação e envolvimento do pai deve estender-se ao apoio na amamentação, continuando a ser um pilar para a mãe, e um meio para criar laços que contribuem para a formação do vínculo entre pai, mãe e bebé, determinante no desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. «O pai pode ter um papel ativo na amamentação, encorajando e incentivando a mulher a amamentar, mantendo-se sereno e ajudando a companheira a superar as dificuldades que possam surgir, assumindo outras tarefas com o bebé, como dar banho, trocar a fralda, substituir a mulher nas tarefas domésticas, ocupar-se dos outros filhos, entre outras tarefas».

Benefícios da amamentação para a mãe

  • O aleitamento materno permite à mãe vivenciar o prazer da amamentação, sentir-se mais segura e menos ansiosa.
     
  • Durante a amamentação produz-se ocitocina, uma hormona que ajuda o útero a regressar ao tamanho normal e a reduzir a perda de sangue após o parto.
     
  • Estudos sugerem que há uma menor incidência de cancro da mama e do ovário, e de osteoporose, em mulheres que amamentam em exclusivo durante os primeiros seis meses após o parto.

Pós-Parto
Depoimentos e revisão
Manuela Ferreira,
Enfermeira Especialista em Saúde Materna/Obstetrícia,
Professora Coordenadora e Presidente do Conselho Técnico- Científico do Instituto Politécnico de Viseu - Escola Superior de Saúde.
Escrito por
Iolanda Veríssimo